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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Verdadeiro Jejum

O Verdadeiro Jejum

Ao longo do Tempo da Quaresma, que vai terminando, ainda é comum ver muitas pessoas fazendo algum tipo de sacrifício do tipo, não comer doces, não beber bebidas alcoólicas. 
Essas “penitências” costumam substituir a tradição do preceito do jejum e da abstinência de carne, conforme proposto pela Igreja pelo menos na quarta feira de cinzas e na sexta feira da Paixão.
O jejum e a abstinência de carne fazem parte de uma antiga tradição cristã que tem suas raízes no Judaísmo, mas pode também ser encontrada em outras religiões. Em geral, o gesto é parte de uma experiência de purificação, de depuração e fortalecimento da vontade.
Para o cristão, é oportunidade, também, de fazer-se solidário com aqueles para quem o jejum já é uma constante, em razão da miséria, da fome. Jejuar é estar ao lado do irmão que sofre e reconhecer nele a presença do Cristo crucificado.
Bem diferente de quem evita o chocolate ou a cerveja durante os quarenta dias da Quaresma e tira o atraso na overdose do domingo de Páscoa.
O jejum, na verdade, pode ser convite a mergulhos mais profundos… 
Certa vez, participando de um retiro com jovens, durante a Semana Santa, fizemos a proposta de, na sexta feira da paixão fazermos um jejum de palavras. Deixar que o silêncio nos envolvesse de forma a criar um ambiente propício à contemplação dos mistérios que unem, nesse dia, amor e dor.
Foi uma experiência inesquecível ver aquele grupo de mais de cem adolescentes recolhidos a um silêncio que falava ao coração de todos.
Refletindo sobre isso, e com a proximidade de mais uma sexta feira da paixão, lembro-me do que disse, naquele retiro, um padre jesuíta, amigo meu, motivando e convidando o grupo ao jejum de palavras:
“Se alguém decidir passar a comer apenas doces, frituras, salgados já sabe as consequências. Principalmente num mundo que valoriza tanto a vida saudável, em especial a partir dos hábitos alimentares. Todo mundo sabe dos excessos que podem fazer mal.
É curioso que não tenhamos a mesma preocupação com a nossa ‘dieta espiritual’, com aquilo que usamos para saciar a sede e a fome da nossa alma”.
É verdade. Queremos cultura, paz, valores, desejamos justiça, harmonia, alegria… e engolimos, frequentemente, filmes e telenovelas de baixo conteúdo; programas que exploram a falta de ética, debocham dos valores; livros e revistas apelativos, músicas de baixo nível, humor preconceituoso, desrespeitoso, conversas pouco construtivas, conquistas individualistas, projetos egoístas. 
É claro que uma “dieta” assim acaba por entupir os canais por onde a graça de Deus poderia fluir em direção ao nosso oração.
Por isso quero propor a você um jejum diferente, que não se restringe a um dia nem mesmo a um tempo específico. É uma dieta para a vida toda.
Começo lembrando que o que agrada a Deus não são os alimentos que você deixa de comer. O que alegra o coração de Deus é você se alimentar de tudo o que torna seu coração mais puro, mais humilde, mais aberto ao bem, mais fraterno e disponível ao outro.
Minha proposta nem é novidade. Séculos atrás o Senhor já falava pela boca do profeta Isaias:
“O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm o que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante?”. 
Então, se quer fazer jejum, se vai evitar doces, bebidas, se vai se privar de algum gosto, se pretende cumprir alguma penitência, fazer algum sacrifício… arrisque-se, quem sabe, em vôos mais altos, em mergulhos mais profundos…
Faça jejum de palavras que ferem e farte-se de palavras que pacificam…
Faça jejum de mau humor e alimente-se de alegria.
Faça jejum de ofensas, injúrias, calúnias e rancor e farte-se de mansidão e paciência.
Faça jejum de pessimismo e encha-se de esperança e otimismo.
Faça jejum de preocupações e sinta-se saciado na confiança em Deus.
Faça jejum de lamúrias e queixas e saboreie as coisas simples da vida.
Faça jejum de pressões e preencha-se de serenidade.
Faça jejum de tristeza e amargura e encha seu coração de felicidade.
Faça jejum de egoísmos e multiplique-se em compaixão pelos outros.
Faça jejum de vingança e compartilhe atitudes de perdão e reconciliação…
Faça jejum de palavras e saboreie silêncios que o ajudem a escutar a si mesmo e aos outros…
Faça jejum de pensamentos de fraqueza e encha-se de sonhos que inspiram.
Se todos fizermos uma dieta assim, nosso espírito, saudável, íntegro, ordenado e equilibrado, estará pronto para viver o mistério da mesa pascal, da vida nova que se oferece todos os dias a nós, saciando de paz, de amor, de confiança os corações que se abrem para receber e acolher a Jesus Ressuscitado!
Amém, à espera do Aleluia!


Eduardo Machado
com-partilhando@googlegroups.com

Enviado por Mangela Castro

http://mangelacastro.blogspot.com

ilustração da  internet: Quaresmeiras