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terça-feira, 11 de junho de 2013

Guaipi


Guaipi é um indiozinho muito alegre! Todos sabem quando ele está por perto... - faz tamanha barulheira com o tambor que ganhou do amiguinho da cidade, que ensurdece.

Bentinho é como se chama o amiguinho de Guaipi. Filho do Dr. Antonio Bento, que vai à aldeia, semanalmente, prestar assistência médica voluntária, aos seus moradores.

Como as visitas do Dr. Antonio Bento são aos sábados, Bentinho não perde a feliz oportunidade de acompanhá-lo, pois não precisa ir para o colégio neste dia... Estiveram ali muitas vezes, no decorrer dos dois últimos anos.

Às vezes, se as consultas tornam-se mais demoradas e precisa que se estendam até o domingo, eles pernoitam na aldeia. Tomam pousadas, na cabana do velho amigo e querido padre Jacinto, junto à simplória capelinha. E ainda participam da missa, logo cedinho…

Depois de observá-los por já algum tempo... - sempre juntos e tão contentes - o padre Jacinto, conjecturava que os garotos pareciam dois bons irmãos: são muito amigos! – dizia ele - e conciliam muitas atividades com satisfação, embora suas realidades sejam bastante diferentes...

Guaipi frequenta uma escolinha da aldeia, e sempre pede para Bentinho orientá-lo nas lições mais difíceis. Bentinho o faz com agrado. E, Guaipi, por sua vez, lhe fala sobre a natureza exuberante e tão próxima dele!... Bentinho afirma extasiado: é mesmo muito divertido poder brincar aprendendo, aqui neste sítio tão viçoso e encantador, que abriga a aldeia!

Como estavam comemorando a semana do meio ambiente, no seu colégio, Bentinho resolve contar para Guaipi, que naqueles dias, havia aprendido, com sua professora, que a Mata Atlântica já vem sendo devastada desde a época do Brasil – colônia. Iniciou com a extração do pau-brasil, porque dessa madeira se retirava uma tinta vermelha, utilizada como corante de tecidos. Hoje - completa ele - esta tão frondosa árvore, só é encontrada em alguns jardins botânicos e está ameaçada de extinção... Conta também que se retirava da mata, madeira para a construção de navios, engenhos e cidades. E que a ocupação do homem na faixa litorânea, pela facilidade de transporte, na época do cultivo da cana-de-açúcar e do gado, por ter sido mal planejada, causou graves danos, ocorrendo o desperdício de recursos naturais... Enfatiza ainda que, mesmo com a mudança de culturas, da cana-de-açúcar para o café, o algodão e as frutas para serem comercializadas, fizeram com que a floresta fosse mais sacrificada, para abrigar os núcleos habitacionais, que de maneira desenfreada, utilizavam a sua madeira, que servia às olarias e usinas geradoras de energia... E toda essa devastação foi feita em nome do progresso - afirma Bentinho - restando da Mata Atlântica, só 5% da área original, que continua sendo ameaçada e invadida nos dias atuais.

Após a sua intensa e angustiante preleção, Bentinho percebeu que Guaipi, num silêncio aflitivo, só despregou-lhe os olhos marejados de lágrimas, quando ele terminou de falar...

Emocionado, pois, enquanto relembrava suas aulas, sentira ainda mais a questão, tentou serenar o amiguinho, mas as palavras não lhe ocorriam - num triste suspiro, o abraçou…

Suas fisionomias deixavam transparecer o quanto estavam preocupados com o desdém que ainda sofre o meio ambiente. Guaipi, num desabafo, bradou: “Haverá maneira de mudar a cabeça das pessoas?”. Bentinho não respondeu, e cabisbaixo, mais uma vez, suspirou com desesperança…

A tarde estava quente, e através das copadas e belas árvores, o sol insinuava-se ardente, com seus raios flamejantes, energizando o terreno, por onde medravam as espécies silvestres... Guaipi, enxugando disfarçadamente o rostinho, segura na mão de Bentinho, e dando prova de sua grandeza d’alma, mostra firmeza, falando:

- Veja amiguinho, aqui ainda é um lugar abençoado! Venha comigo correr, andar pela mata… Ela é perfumada, verdejante, com sombras deliciosas, muito bonita e alegre com os rumores dos pássaros que vivem felizes aqui! Vou mostrar-lhe também a água que escorre cantando da nascente, tão límpida e fresquinha que faz gosto! E o lago então, como é lindo e transparente, onde tomamos banho e lavamos a roupa, mas sem sujá-lo, porque nós amamos a natureza, pois sabemos que ela é sagrada!

Ao entardecer, quando retornava com seu pai, para a cidade, Bentinho, calado, tomado pela tristeza, vai imaginando em como seria perfeito, maravilhoso mesmo, se todos reverenciassem a Mãe Natureza, como a gente boa, humilde e feliz daquela aprazível aldeia!

Então, num arrebatamento, exprime enérgica e claramente sua opinião, ao seu pai, que o olha com silente deferência e impressionado, com a consciência desenvolvida daquela criança, de coração tão nobre! De repente, uma brisa suave percorre os campos, que circundavam a estrada por onde passavam...



©Daura Brasil
São Paulo, 2007

         
***Semana do Meio Ambiente ***                                                  


(O presente de Bentinho para Guaipi)